Por mais que tentasse apegar-me as coisas, elas terminavam por se modificar – controle do tempo.

E o quarto, sujo desde a mudança, não vê luz faz já dias. A pia limpa, intocada; os talheres, pratos e copos esperam. Não há barulho, mas chove lá fora. A falta de cheiros não leva nem me traz nada. Poucas vezes tive a chance de me tornar detestável. Não sei quando fui homem ou coisa qualquer, mas sorrio.

“Aprecio cada derrota.”

“Aprendi a amar.”

Errar em excesso me parece mais difícil. Segurar a vitória é perder; ter algum apoio.

Às vezes sonho com coisas, às vezes com pessoas. Pessoas me fazem sorrir.

Quando sonho com a natureza, sinto-me muito, muito grande. Como hoje ao sonhar com o mar: abria ele com a mão e via os sonhos se afogarem nele, no jeito inócuo da água. Perseguia uma a uma qualquer coisa que, no momento, parecia trazer-me o que faltava – mas era só a falta. Repetindo modos e métodos, percebia a cada visita tudo se modificar – são mudanças internas. Chocado, me vi grande demais. Cabia mais que o agora, o depois e os talvezes se excluíndo – pensa na sorte quem gosta de se provocar… Quem sabe onde me separo das coisas? Mãos jogadas, que são minhas e não eu, são como o resto do corpo: os olhos invejosos, a boca faminta. E, desprendendo (,) fui cada pedaço. Os dedos amarrei com os cabelos que caíam – melhor não separar o que não se pode perder. Destacando sem dor o que eu não era, fui deixando de sentir o mundo, de ser parte dele. Pouco fiz pra mudar, pensei que sorte…

Bernardo Brant – 6º Semestre de Português

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